Monday, December 31, 2007

Moakys

Moakys, uma menina linda.
Nasceu com quinze ou dezasseis anos de idade.
Em Vila Nova de Cerveira, numa casa linda repleta de boas recordações.
Baptizada por Francisco Fonseca.
Nesse dia tinha um casaco de camurça cheio de fitas… como nos filmes dos Índios.
E duas tranças lindas. Também tinha duas tranças lindas.
Desde então ganhou vida própria.
E para quem tanto pergunta... é assim.
Moakys, uma pedra feita por Índios que ganhou vida própria.
Não há registos fotográficos.

Saturday, December 29, 2007

Voar


Eu sou eu… não quem… sejamos realistas… as amizades são superficiais ou em momentos importantes (opostos incompreensíveis)… raramente nos instantes… então eu sou eu… comigo. E voo sozinha… com prazer… porque paro de depender e posso voar… sem obstáculos. E assim voo sem contar… e voo.

Timída, eu



Tímida… como ninguém… é de ninguém entender… a não ser quem cora e se sente a arder com palavras… a não ser quem passou uma infância a esconder-se nas pernas de alguém mais próximo… a não ser quem fez tudo para que isso passasse durante os anos de afirmação das suas vidas… a não ser quem sentiu o rubor ardente perante qualquer conversa banal.
Tímida… como ninguém… ou como toda a gente… talvez alguém entenda e tenha medo de o dizer… a sensação terrível de que estragamos tudo porque coramos… ou mais tarde, porque ficamos sem saber o que dizer quando havia tanto a dizer… ou a vontade imensa de fugir para sempre porque tudo se estragou…
Tímida… anos depois… porque ainda é mais difícil assumir uma timidez quando já ninguém nos vê assim… mas no fundo não nos libertamos desse estigma interior… e que nos dá uma fúria imensa de saber que este fantasma nos persegue… e egoisticamente só nos momentos mais importantes…
Tímida quando não devia ser… e não tímida quando o deveria ser… um erro de cálculo… um erro que me faz pensar onde errei neste meu processo de guerra à timidez, essa senhora que se impõe.
E a timidez dos outros que nos faz sorrir… quando pensamos que a nossa é parte apenas do passado… e compreendemos quem a sente… quase a acarinhamos e sorrimos… e a sentimos sensual nesse alguém… até ela voltar a nós.
E tímida como ninguém… agora que já não podia ser e que atrapalha e que não a sinto nada sensual em mim…
Mantém-se a guerra.

Wednesday, December 26, 2007

Les Chansons D'amour

Sunday, December 23, 2007

Um título qualquer


Às vezes temos um amor imenso por alguém. Até pode ser uma ilusão… mas quando o tempo passa… e depois de algumas tentativas de tentar cair na realidade… e quando muito tempo passa… e continuamos a sentir um amor que só se pode ter tornado mais puro… aí sentimos que o às vezes era uma ilusão e acreditamos mesmo.
Sentimos em alturas ou numa altura da vida um amor imenso por alguém. Uma altura da vida que tem a ver com a altura ou não, um amor que tem a ver com a altura ou não.
E que quando o tempo e meses passam… deixa de ser um capricho e torna-se puro. E acreditamos… e mesmo que a realidade não nos permita, continuamos a acreditar… porque os meses o tornaram mais forte dentro de nós… só em nós… o que não faz sentido.
E ter um amor imenso por alguém teria que fazer sentido… para além de fazer sentido em nós… o que também leva o seu tempo… fazer sentido…
E acreditar que faz sentido complica tudo… porque aí é a nossa alma que acredita… mesmo que vejamos que não pode ser… e quando só nós acreditamos, e absolutamente mais ninguém acredita… ficamos sozinhos com esse amor intenso que nos isola porque é só a ele que queremos.
E continuar a acreditar pode ser uma ilusão mas é o que marca a minha vida neste momento.

Friday, December 21, 2007

Pablo Neruda


Sem mais pensei nos carteiros… figuras que não se vêem mesmo sabendo que passam diariamente na minha casa… pensei que queria sentar-me na soleira da porta à espera de ver o homem de sacola ao tira-colo e de andar apressado cheio de envelopes nas mãos… já separados para este aglomerado de casas…
E os pensamentos são fortes e não me sentei na soleira da porta e hoje vi-o e não resisti a perguntar: “o senhor é carteiro?”
Ele ziguezagueava entre caixas metálicas junto aos portões e tinha um saco ao tiracolo.
Abrandou o passo sem parar porque não faz parte da sua essência parar e disso ambos sabemos por isso me apresso a perguntar quando chegará a carta que mandei ontem.
A carta de envelope cinzento que obviamente ele não sabe qual é e que deixei numa estação dos correios à meia-noite de há dois dias.
Em instantes os meus olhos estão arregalados à espera da sua resposta e o meu olhar foge para as suas mãos… imagina-as instantes antes nesse mesmo dia (porque a rua do destino é muito perto) com o meu envelope cinzento cheio de páginas escritas a cair dentro de uma caixa que é a de alguém que amo. Imagino-o cheio de cuidado com as duas mãos porque pressente que é importante.
Sorrio quando me responde que é hoje.

Sunday, December 16, 2007

Eugénio de Andrade

Amor desta tarde que arrefeceu
as mãos e os olhos que te dei;
amor exacto, vivo, desenhado
a fogo, onde eu próprio me queimei;

amor que me destrói e destruiu
a fria arquitectura desta tarde
- só a ti canto, que nem eu já sei
outra forma de ser e de encontrar-me.

Só a ti canto que não há razão
para que o frio que me queima os olhos
me trespasse e me suba ao coração;

só a ti canto, que não há desastre
donde não possa ainda erguer-me
para encontrar de novo a tua face.