Friday, December 25, 2009

O meu segredo



Tantos anos de incertezas…não minhas, do Homem.

Tantos anos de procuras de identidade, de felicidade, de ideais, de tudo, do que importa realmente…

Tantas viagens, tantas fugas, tantas amizades profundas, tantas amizades supérfluas.
Sempre sem nunca desistir, sempre atrás de alguma coisa.

O que quer que seja… chegou ao meu coração contigo, quando dias seguidos acordei em Paz, de olhos a brilhar para o Mundo e de sorriso suave, de coração aberto para toda a gente que se cruzou comigo. Quando o sorriso ganhou e o coração também.

Sem pressa, sem ansiedade, sem medo, sem agitação… porque senti que a minha vida estava contigo.

Desapareceu a incerteza, a procura, a fuga…
Desapareceram as nuvens e deixei de desenhar monstros.

Surgiram camélias e coisas ainda mais bonitas.

Porque a minha vida é contigo.

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Telefone


No meu mundo havia uma mesinha perto da entrada. Uma mesinha de madeira com 3 pernas e uma cadeira.
Era aí que estava o telefone de discar. Daqueles onde se enfiava um dedo em cada buraco que correspondia a um número… julgo que ainda se lembram…
Qualquer dia são raridades vendidas em antiquários. Se já não o são…

Hoje são aparelhos cada vês mais pequenos e com mais funções. Dizem-nos cada vez mais simples…

A razão é o meu iphone… Demorei 3 horas para passar os contactos de um nokia para o computador e depois para o iphone. Enraivecida por instruções demasiado complicadas.

Estive então três horas, entre downloads e “ajudas” que desajudam, a pensar no antigamente.

Quando se respeitavam horários de chamadas e não havia mensagens para os cobardes que não conseguem dizer o que pensam.
Quando se andava na rua sossegado sem o toque que sai de um dos mil bolsos que se usam no Inverno ou de uma carteira de mulher… que assumo que há uns anos acabei por adquirir.
Quando se dormia em paz, pois não havia loucos a ligarem a meio da noite porque se “esquecem das horas”.
Conseguíamos todos ir jantar fora sem 100 telefonemas e éramos mais pontuais.
As verdades e as desculpas e os engates eram mais frontais.
Havia espaço.
Falávamos na mesma. Não falamos mais agora, ou seríamos Catatuas.

E quem nos quisesse contactar ligava só àquelas horas de fim de tarde ou muito pouco tarde, respeitando a importância do jantar e da hora de dormir. Respeitando espaço.
E vivíamos bem, muito bem.

Podíamos escapulirmo-nos sem dar explicações. Podíamos viver com os olhos, apenas.

Os meus pais conheceram grande parte dos meus amigos assim e eu também os deles.
Foi o princípio da minha liberdade.

Falávamos mesmo porque nos víamos. Embora o conceito de “mulher sentada ao telefone” venha dessa época.

Era só uma forma de nos encontramos.

Agora é tudo… recados, desculpas, engates, exageros, piadas… coisas difíceis de dizer… coisas rápidas… coisas… e coisas são desnecessárias e sentimentos tornam-se desprovidos.

Arrancam a nossa liberdade através de uma pequena caixinha assumida por todos cheia de vantagens. Até para substituir os lindos postais de Natal… que se transformaram em catadupas de mensagens vazias e iguais que banalizam tal época e interrompem a serenidade do lazer em família.

É bom sabermos de alguém longe ou em apuros… mas isso são excepções. Se tivesse sido apenas essa a sua utilidade…
Mas levou à vulgaridade que são mensagens de sentimentos fáceis… que vão sem retorno. Que se distorcem por aparecem num aparelho vulgar dada a sua facilidade.

Pelo menos não mandem poemas.