Saturday, September 12, 2009

Querido Pai


Querido Pai

Gosto de ti como uma filha gosta de um Pai e mil vezes mais do que isso.
Estou feliz por ter os meus Pais jovens apesar da idade que ninguém lhes dá (e juventude essa de que os teus filhos tanto se orgulham, ou talvez mais correctamente, tanto admiram), por ter um Irmão que amo acima de tudo e cujo colo me consola de qualquer "monstro", uma cunhada que é uma Amiga e um sobrinho que é a Estrelinha que tanto brilha nas nossas vidas. Por ter encontrado o César que é quem me Completa e a quem Amo como a toda a família. E é muito mais que muito.

Estou feliz por termos tido todos até aqui mais do que saúde e possibilidades para realizarmos sonhos tão altos como atravessar o Atlântico e correr o Mundo de mochila às costas. Por estarmos nesta Vida rodeados de amigos e de sonhos realizados.
Feliz por ter uma família de letra grande que se estende à família da Flávia e do César e sentir que estas famílias "novas" são muito mais maravilhosas do que se poderia imaginar.

Esta semana que passou fez-me sentir uma miudinha... Quando vi que tinhas um enfarte, senti-me muito pequenina... a precisar que não tivesses enfarte nenhum e que tomasses conta de mim. Quando liguei ao Miguel... aguentei o ruído das lágrimas para lhe poder falar. Liguei-lhe para te proteger... e a mim.
As minhas forças já estavam abaladas pela Flávia e pela Micaela e tive que ir buscar uma reserva que não sabia que existia. Que só apareceram porque o Miguel e o César existem na minha vida.
Vi-me em sonhos vestida de "Super Mulher" de banda desenhada, a fazer pose com um sorriso grande de quem conseguiu resolver tudo no último quadradinho.

Nem imaginas o quanto fiquei feliz quando foste para casa. Preciso tanto de ti como Pai...
Posso trabalhar como gente grande, mas preciso de ti como Pai. Ainda não cresci o suficiente para poder andar com a minha vida para a frente sem a tua ajuda (como Pai... sem mais).
Preciso que pegues ao colo nos filhos que quero ter com o César e que os leves a ver o mar e barcos e escavões e tudo o que há por aí para ver. Preciso que lhes contes as histórias da tua grande viagem para que eles cresçam a perceber que o Mundo é grande, muito grande... enorme. Para perceberem que a Vida pode ser enorme e muito grande.
No trabalho... até me tenho desenrascado melhor do que algum dia pensei! E essa parte é minha, definitivamente minha. Já aprendi o que tanto me ensinaste. Agora liberta o peixinho e deixa-o nadar.

Preciso que descanses duas semanas... são só duas. Que repenses a tua vida. Que penses que tudo o que te dizemos é porque te amamos muito, todos.
Não queremos atitudes radicais, pelo contrário... Queremos que sintas a vida na sua simplicidade de ti próprio.
Que o trabalho que nos consome tem que se tornar num trabalho que nos dá prazer. Deixar aos teus "miúdos" as chatices.
Preciso que te lembres que tudo tem que ser moderado porque o mais importante somos nós.
Que precisamos de ti com saúde.
A vida é uma bênção. É um jogo de sorte também. Mas começamos o jogo com muitos créditos e agora seria muito mau não os aproveitar-mos.

Preciso que faças o que os médicos te dizem. Esses... que são como tu... Médicos... Esses que dedicam a vida a tratar de pessoas, que não dizem banalidades nem disparates. Dizem o que é o mais certo (pelo menos no Mundo em que eu acredito). E eu fiz por tudo para te arranjar os melhores que conheço.

Por favor toma os remédios (esta frase é para ler outra vez, a razão de tantas palavras), não te zangues com os nossos conselhos e tenta olhar para a Vida durante duas semanas. Usa os teus sentidos... que têm andado tão distraídos com problemas que são tão menores.
Cheira o mar que está tão perto e as plantas que vocês os dois fizeram crescer nesse terraço agreste. Toca e sente os abraços que te dou eu e todos nós e o Rafael que corre para ti de braços abertos e a Mãe que tão preocupada está. Olha para as árvores e flores que estiverem pelo caminho e olha para nós e sente o que às vezes não dizemos por timidez.

Tudo vai voltar ao normal se te adaptares e se tomares consciência que tens uma doença que é controlada por regras que... deveriam ter sido as que deveriam ter regido as nossas vidas desde sempre. Será assim tão difícil admitir uma doença... Obviamente é mais fácil negá-la.
Mas os teus dois filhos admitiram as suas e passaram por cima. Aprende alguma coisa connosco... já somos crescidos... já temos famílias... já aprendemos alguma coisa.

Eu tomei consciência que a minha própria vida tem que mudar. Uma consciência séria. Não preciso de a perder... à vida... a trabalhar para ter o que no fundo não é preciso para nada.

Preciso de ti e de nós... os que te adoram e não sabem viver sem ti.
Porta-te bem, por favor.

Um beijo grande
Octopussy

PS: e se exponho assim os meus sentimentos é porque quero que o meu Mundo saiba o quanto gosto de ti.