Friday, March 21, 2008

O-Yoné


Fosse o kimono de seda a única nuvem branca daquela noite e seria ela a lua. Os passos curtos apressados pela viela de Kyoto… Seguida de O-Kuni com a sua famosa lanterna de peónias, evitava os socalcos das pedras monstruosamente irregulares. A lua era O-Tsuyo ou o seu reflexo. Tudo o resto a escuridão das altas horas. Apressadamente houvem-se as komagetas, o som ruidoso das sandálias de madeira sobre a pedra. E a lanterna que transforma as silhuetas delicadas em vultos fugitivos da noite. Um véu de kimono principesco que desaparece é o que se vê de uma pequena janela de uma das muitas casas de gueixas desse bairro. O-Yoné perde-se em sonhos. E volta à janela todos os dias. Adormece ao som das komagetas apressadas. E acorda todos os dias rodeada de Kimonos e do cheiro das orquídeas que despontam uma a uma em lenta afirmação à felicidade.
Namu Aminada Butso ouvia-se nas noites lua cheia e esta invocação em nome dos mortos para o Buda Amitabha assustava até as pedras, e a lua escondia-se para não reflectir O-Kuni.
Mas pouco longe, num dos ramos da árvore de Inari estava a mensagem de O-Yoné e daquele estrangeiro com quem se cruzou no bairro de Nedzu em Abril. Um papel amarrotado que nunca poderia ter lido. Que mudaria a sua vida mas que não a mudou porque não o leu.
O vento renova por si só esta árvore de Inari. Liberta-a do peso das obrigações de desejos tímidos impostos.
O-Yoné perde-se em ventos, em sons de komagetas, em luzes de lanternas de peónias, em rezas a Buda, em noites de lua cheia, em vultos de kimonos e não volta a Inari noutro Abril porque já é tarde.
O-Tsuyo já não é a lua e O-Kuni já não tem a lanterna.
A rua lendária das gueixas perdeu-se no esquecimento.
O-Yoné já não vê a vida através de uma frincha de uma janela.
A árvore de Inari morreu e já não existe e com ela se foram os mil sonhos em papéis amarrotados.
E deixaram de haver dramáticas histórias de amor e deixou de existir um estrangeiro que estava no bairro de Nedzu.

Wedding

Saturday, March 08, 2008

Cola-cola e o Mundo


Mundo, espera.
Ou não esperes.
Pode não dar tempo.
Depressa, antes que te transformes.
Se acabares também acabo.
Mas transformas-te mais depressa do que eu.
E és sempre mais bonito antes que depois.
Embora eu sempre mais bonita depois que antes.
Inversamente proporcional.
A tua mudança segue para um ponto único, demasiado uniforme.
A minha é crescente e divergente.
E cresce contigo, com o teu de agora e não com o teu de depois.
Esse poderá ser tardio.
A Coca-cola foi o princípio, o teu principio do teu fim.
Cartazes onde os teus nem sabiam o que isso era.
Depressa antes que todas as Coca-colas cheguem,
E o sabor seja sempre o mesmo.

Tuesday, March 04, 2008

Berlin


Moakys vai a Berlim