Friday, July 22, 2011

Ode aos meus amigos



São as tuas pernas e as minhas e tu tens 4 anos.
Somos irmãos e somos uma jura de amor.
Vais-me buscar numa ambulância e levas-me ao vulcão.
Estamos a uma mesa em Vila Nova de Cerveira e jogamos um jogo sem fim.

Estamos no Vietname sentadas numa ponte.
Estamos num monte perto de Paredes de Coura e tu tens um delírio.
Estamos em Hanoi e desapareces num Rikshaw.
Estamos perto do fim do ano e vivemos como se fossemos para sempre.

Estamos em Coimbra e não pagamos a luz.
Salvas-me milhares de vezes.
Estamos no Rock Rendez Vous, fomos numa camioneta.
Estamos juntos a fazer juras.

Estamos em casa de alguém e adormecemos.
Dividimos duas camas por três.
Dividimos uma cama por dois.
Adormecemos por aí.

E um dia desenhas os meus olhos.
Estamos num concerto e relembramos como é para sempre.
Estamos noutro concerto e fomos de ferry e eu dei um beijo ao homem do ferry.
Estamos no Juventude e sinto-me do grupo.

Estamos em Kao San as duas e gostamos uma da outra… para sempre.
Estamos juntas e fazemos juras, para sempre.
Vejo-te uma vez por ano e quase foi para sempre.
Tiras-me uma fotografia que eu guardo até hoje algures.

Sento-me num templo contigo em Angkor e ficam as nossas costas.
E sento-me mais tarde num templo na Birmania e fica para sempre. Estou sozinha.
Acampamos juntas por uma noite.
Mando-te postais e sinto para sempre o teu perfume na rua Jorge Reinel.

Estamos no Laos, numa ilha, numa rede, cada um.
Estamos na India e cortas-me o cabelo.
Estamos no Japão a cantar karaoke.
E espero por ti na piscina das estátuas.

Atravesso o Algarve para ir ter contigo.
E atravesso o Mundo para ir ter comigo.
Voltamos a atravessar Kao San para o outro lado pela décima vez.
Voltamos a passar o ano em Cerveira.

Subiste Emei Shan comigo e sei que te custou.
E comemos morcegos e dormimos com ratos.
E dormimos com a cobra. E dormimos juntos.
Mas uma vez apareceste e viemos a pé da Ribeira, já era dia 1.

Aparecias e sentavas-te comigo no sofá.
Houve um dia em que te deitaste no meu colo… mas já não sei de ti.
Houve um dia em que te deitaste no meu colo, num telhado de Barcelona.
Houve um outro dia em que adormeceste no meu colo, num táxi em Lisboa.

E num outro dia apareceste-me em casa a meio da noite de leites achocolatados para me consolar.
Descíamos a rua de patins. Agora descemos as ruas de mãos dadas para sempre.
Contei-te a minha vida num restaurante chinês e ficamos amigas para sempre.
Fiz-te um filme em frente ao Everest, estavam muitos negativos.

Vivi um filme numa favela brasileira. Zangaste-te comigo.
Passamos a criancice a brincar com estrumpfes e estrumpfinas.
A adolescência a agir como tal… estrumpfinas.
E África não é tão difícil.

Naquele templo em que nos benzeram amei-te e ainda te amo.
Felizmente almoçamos tantas vezes.
E encontramo-nos na rua vezes sem conta. E sorrimos sempre.
Desfiz-te o cabelo numa praia de Palma.

Encontrei-te perdido e perdi-me… em conversas verdes proibidas.
Telefonei-te de uma cabine telefónica quando fizeste anos.
Dividimos um carro em Marrocos e uma tenda no Perú.
Ensinaste-me a guiar o carro do lado errado… e muito mais coisas antes disso.

Salvei-te de uma barata na China.
Salvei-te de uma barata na Indonésia.
Sabes que te vou telefonar todos os dias para sempre.
Contagiamos-nos no Contagiarte… e éramos três.

Caminhei com estas botas Mundo fora.
Carreguei esta mochila Mundo fora.
Chinelos… duram menos… vão-se abandonando e trocando.
Temos momentos solenes e menos solenes.

Dançamos juntos naquele casamento em que eu tinha um vestido vermelho.
E os teus quadros serão lindos para sempre.
Guardo a tua palheta, o teu buda e a tua prancha de surf.
Guardo a pulseira da tua Mãe.

Contei-te segredos difíceis e tu entendeste.
Contei-te outros segredos e tu sorriste.

Trago-vos no coração.