Friday, October 31, 2008

Kung Fu


“Kung Fu
Filmes de…”

(com o som das teclas de uma máquina de escrever antiga, preta, com duas ou três letras que encravam)

Numa televisão velha, com botões metálicos saídos e outros dois em baixo para rodar.

Quase não há história, como nos filmes pornográficos em que só o sexo interessa.
Só kung Fu. Saltos e pontapés que fazem muito barulho, um segundo mais tarde…

Mas não nos anos 80, num autocarro para o Algarve com a cara encostada à cortina de tecido duro sempre azul escuro, disfarçando a baba de quem adormeceu.

Numa sala de um prédio alto e velho. Numa poltrona de lona verde roçada.

Feliz.

Wednesday, October 15, 2008

Gentes da minha vida



O que sinto é sincero.
É por ti japoneira e água do mar.

É diferente do amor por ti, que fazes parte de mim e vives comigo.
Diferente de tudo o que mexe nos nossos passeios. Diferente das folhas verdes ao vento que me respondem e quase a ti se soubesses falar.

E é diferente de ti meu Pai e minha Mãe, tão imenso o amor de Pai e Mãe, dos meus Pais que obviamente são mais especiais que quaisquer outros Pais e Mães.
Diferente do dos perfumes por aí.

Diferente de irmão que é mais que irmão e mais que amigo. E mais do que sei dizer. Irmão de letra muito grande. Minha Vida talvez seja a palavra.
Diferente do amor por uma flor que também é real e também conta.

E diferente de ti que sabes quem és, e que és tantos, porque a tantos sinto que gosto profundamente, e cada um o sabe interiormente de certeza.
Diferente do amor pelas montanhas e escaladas difíceis que me fazem sorrir quando chego ao cume.

E muito diferente do que é por ti, menina dos meus olhos, que me ajuda a crescer e muito mais do que isso, que vive comigo cada dia banal que passa obrigando-me a sorrir mesmo quando eu resisto.
É por ti camélia que vives no meu parapeito e pela luz que atraís.

Ainda assim é diferente do que sinto por ti estrelinha linda que não imaginas tão pequenino és. E que não há igual… pois mais ninguém quererá ir procurar formiguinhas como nós dois.
Aí talvez… se assemelhasse à pureza das rosas brancas.

Não é igual o amor pela Lua cheia numa noite azul escura.

Nenhum é igual…o que os torna a todos especiais.
Tão especiais que sou eu.
Sendo eu o que sinto.
E o que sinto tão diferente.
Mas que és tu sem identidade descrita, tu que sentes que és tu, porque já to fiz sentir.

Como é diferente o vermelho das papoilas… e o barulho das ondas.
E por ti especialmente, que surges tão inesperadamente. Tão baralhaste o meu conceito de amor por ti que o transformaste sem retorno. E me fazes acordar a amar-te todos os dias. Mesmo sabendo que só to posso dizer um dia de cada vez. Tantas páginas escreveria se não o conseguisses ver nos meus olhos ou senti-lo quando te toco.
O amor mais difícil de sentir, que me fez interrogar tantos anos se existiria, mas que contigo existe.

Pelas mil variedades de orquídeas deste Mundo.
É verdade que as amo.
Por tudo o que mexe.
Por tudo o que reage.
Tão diverso que preenche, sem me baralhar.
Faz de mim quem sou.
Fazem de mim quem sou, os imensos amores da minha vida.

Tuesday, October 14, 2008

Swami Dayananda



Swami Dayananda de laranja.
Rosto escuro, sorridente por trás da enorme barba branca. Olhos negros vividos.
O laranja das suas roupas que passou o tempo a pôr por trás da orelha mas que nunca lhe descobriu a cabeça. Movimento que lhe definia a face.
Maturidade. Uma aura de imenso saber e bondade, infantilidade na sua característica mais positiva… risos contagiantes.
Mãos enormes de dedos finos e longos, lindas. Não desviei os meus olhos quando a estendeu. O que talvez mais observei… as suas mãos delgadas e calmas, quase mágicas, de veias bem definidas que se adivinham azuis. Movimentos suaves e harmoniosos como se fossem pensados sem o serem.
Uma figura de paz e de um saber profundo cuja presença nos faz sentir o melhor de nós próprios.
Alegre e leve.
Nunca saberei se realmente vive “os valores” ou se apenas lhes aproxima. Teria que lhe perguntar em segredo…
Nunca saberei com que idade o conseguiu.
Ou talvez o consiga numa próxima vinda à Quinta das Àguias.

Saturday, October 04, 2008

Homenagem ao meu namorado




O amor descreve-se?
Tenta-se… nunca se chega lá.
Senti-lo é uma bênção.

Quer-se explicar…
Não é possível.
Sente-se… como uma energia.

Para quê exprimi-lo?
Sente-se.
Contagiam-se energias.

Sabe-se.
Pelo olhar, pela pele, pelo sorriso inocente.
Pelo toque, ainda que leve.

A senhora morte



O que é a morte.
Um senhor vestido de preto com uma foice enorme?
Espalhados em cinzas pelo Mar, o verdadeiro Deus, Pai das Montanhas.
O vazio do Universo. Estrelas e azul.
Debaixo de terra rodeados de minhocas carnívoras.
Reincarnação com a incerteza dos Karmas.
Numa prateleira dentro de um frasco que mais cedo ou mais tarde vai ser entornado.
Uma planície de relva ou uma profundeza onde abundam as chamas.
Numa casinha bonita branca cheia de anjos de mármore num lindo cemitério silencioso.
Ou uma festa de virgens.
Voltar como burro só porque se morreu na margem errada de Varanasi.
Vazio, escuridão, eternidade ou a reencarnação vista como um esforço.
Ou luz. Ou nada, simplesmente nada.
Ou luz.

Os outros ficam e choram e sofrem.
E os mortos? Que lhes acontece? Tantas opções, tantas filosofias, tantas religiões, tanto medo.

Viver.

Dualidade


Dualidade. Dois. Duas. Pessoas.
São duas sempre. Vão-se escolhendo entre si… ou lutam, a ver quem ganha.
É mau quando há luta.
Harmonia. Escolha. Sem conflito.
Ainda assim sempre a dualidade. Dois. Duas.
Ambientes, espaços, terras, ambientes, outros espaços, outras terras.
Dualidade.
Monotonia da dualidade mais forte que monotonia da unidade.
Unidade, se consistente, mais forte que a dualidade.
Raramente a unidade.
Dualidade, Trilidade e por aí fora… já é doença ou loucura… doença dos loucos.
Dois. Duas. Pessoas.
Imposta ou escolhida. Um misto ou uma predominância.
Não por aparência. Não é disso que se fala. Intrínseco.
Mesmo ambiente, espaço, terra. Dualidade, unidade, trilidade, por aí fora.
Para sempre, alguma vez no passado, nunca.
Unidade nas profundezas do Hinduísmo. No culminar do Budismo.
Os loucos e a unidade e os outros loucos e a variedade de unidades.
Outros povos, outras cores, outras dualidades, outras unidades. Desconhecidas.
Quantos somos?

24h


Parem de me dizer que me falam mais logo porque eu vou dormir.
É uma perda de tempo, de Vida...
Ninguém dorme a seguir à urgência.