Friday, April 04, 2008

O-Yoné continuação


Século XVIII. Kyoto. Bairro de Hanamachi “cidades de flor”. 19h30.

Depois de um banho em vapores de salgueiro, há um corpo que se ergue.
Desses vapores, esse corpo… um pé branco delicado que tenta encontrar o soalho.
Mais uma Maiko na sua vida e um pano de linho branco envolve-a. Rapidamente se cola ao seu corpo e o ar quente transforma-se num frio acolhedor.
Faltam duas horas… que não é muito… e o escasso tempo de preparação é medido por um pau de incenso de sândalo. Demasiado forte mas assim escolhido por ser notado.

Orquídeas brancas impedem os neons recém chegados de invadir o quarto.

O-Yoné abandona-se a Maiko. Um quarto onde tudo é branco excepto a madeira escura. Portas japonesas de correr. Demasiado delicadas mas que mostram as sombras da correria dos últimos minutos das gueixas.

Alguém que serenamente pratica o shamisen acalma as pressas.

O-Yoné não tem pressa. Quem vê de fora… um corpo esguio mais branco que o branco. Um corpo esguio de braços estirados que se deixa vestir. Maiko rodopia silenciosamente entre pincéis de lábios vermelhos e pentes que transformam cabelos em obras de arte. Rodopia silenciosamente sem fazer voar o pó branco das latas. O-Yoné de olhos de lótus fechados mantém-se de braços abertos e mãos caídas.

O início da transformação vai a ¼ do pau de incenso.
Num momento lento imaginam-se os pós brancos entre os enormes pincéis e a sua face. Momentos antes do vermelho carmim dos seus lábios. Pós brancos que se seguem aos vapores do banho. Que são mais uma áurea que nos impede desde o início de ver O-Yoné como ela é.

Notas do shamisen atravessam a porta e misturam-se e os perfumes enebriantes das gueixas acontecem.
São horas de sobressalto em Okiyaa. Horas que correm na lentidão necessária.

Alguém da casa em frente observa. Observa entre as orquídeas, numa pequena brecha entre duas das flores mais jovens. Nunca conseguiu ver O-Yoné. Apenas um vulto principesco a ser vestido durante horas pela sua Maiko. Apenas uma O-Yoné que saía todos os dias pontualmente de Kimonos exuberantemente sóbrios, envolvidos por elegantes Obis e ofuscada pelo som das suas Komagetas.

Sem título

Wednesday, April 02, 2008

Apsara


Comprei uma estátua no norte da Birmania, num dia em que me sentia muito feliz. Comprei-a porque era bonita, sem ter sido possível entender o seu significado.
Agora sei que não é Birmanesa… é de Angkor, no Cambodja e chama-se Apsara.

Apsara é o espirito feminino das nuvens e da água na mitologia Hindu e Budista.
Apsaras são seres sobrenaturais. Aparecem como mulheres jovens, muito bonitas, anjos na arte da dança. São serventes de Indra, deus da Guerra e do Tempo, rei dos Deuses e dos Devas, deus dos Céus. Dançam em palácios de deuses e são descritos os seus olhos como flores de lótus. No ocidente são por vezes comparadas às sereias.

“An Apsara sent to distract a sage or spiritual master from his ascetic practices. Once upon a time, the sage Viswamitra generated such intense energy by means of his asceticism that Indra himself became fearful. Deciding that the sage would have to be distracted from his penances, he sent the Apsara Menaka to work her charms. Menaka trembled at the thought of angering such a powerful ascetic, but she obeyed the god's order. As she approached Viswamitra, the wind god Marut tore away her garments. Seeing her thus disrobed, the sage abandoned himself to lust. Nymph and sage sported together for some time, during which Viswamitra's asceticism was put on hold. As a consequence, Menaka gave birth a daughter, whom she abandoned at the banks of a river. That daughter was Sakuntala herself, the narrator of the story.”