Saturday, June 22, 2013

Magnólia meu amor


Enquanto tudo em ti é colorido, a baixa da cidade é cinzenta.
Cinzenta com árvores de inverno, nuas.
E por isso as magnólias. Por isso e porque me lembram sapos a cair do céu.
Tantos , tantos que me isolam da realidade.
E aí sinto-me em segurança.
E se o tempo parasse as folhas não lhes cresciam nem as pétalas lhes caíam.
Permaneciam assim, as únicas flores brancas e roxas no cinzento do Mundo.
Perfeitas como cálices, grandes como laranjas.
E chove intensamente, deixo-me adormecer pela estrada e pela chuva e pelos limpa para-brisas.
Aqui sinto-me protegida.
Pásso por elas de pétalas caídas.
A dois centímetros está o vidro e a chuva.
Eu já não tenho fuga.
A dez centímetros está o vidro e a chuva… em casa.
Sinto-me quase protegida se desligar os sons.
Chove… monotonamente e sossegadamente.
Tudo se mantém verde e molhado  e eu mantenho-me não molhada protegida por um vidro.
As magnólias fogem-me. Começam a nascer folhas verdes e as pétalas no chão despedem-se de mim… mas eu não quero esta despedida.
Não quero esta despedida.
Se a simpatia provoca simpatia… porquê tanto medo.
Olho pela janela, do lado de dentro.
Tu estás do lado de lá.

Os meus olhos descaiem e desistem e eu encolho-me, desprotegida.

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