Magnólia meu amor
Enquanto tudo em ti é colorido, a baixa da cidade é
cinzenta.
Cinzenta com árvores de inverno, nuas.
E por isso as magnólias. Por isso e porque me lembram sapos
a cair do céu.
Tantos , tantos que me isolam da realidade.
E aí sinto-me em segurança.
E se o tempo parasse as folhas não lhes cresciam nem as
pétalas lhes caíam.
Permaneciam assim, as únicas flores brancas e roxas no
cinzento do Mundo.
Perfeitas como cálices, grandes como laranjas.
E chove intensamente, deixo-me adormecer pela estrada e pela
chuva e pelos limpa para-brisas.
Aqui sinto-me protegida.
Pásso por elas de pétalas caídas.
A dois centímetros está o vidro e a chuva.
Eu já não tenho fuga.
A dez centímetros está o vidro e a chuva… em casa.
Sinto-me quase protegida se desligar os sons.
Chove… monotonamente e sossegadamente.
Tudo se mantém verde e molhado e eu mantenho-me não molhada protegida por um
vidro.
As magnólias fogem-me. Começam a nascer folhas verdes e as
pétalas no chão despedem-se de mim… mas eu não quero esta despedida.
Não quero esta despedida.
Se a simpatia provoca simpatia… porquê tanto medo.
Olho pela janela, do lado de dentro.
Tu estás do lado de lá.
Os meus olhos descaiem e desistem e eu encolho-me, desprotegida.
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