Tuesday, November 22, 2011

HOJE - TOMO 3

Confesso inconsistência.
Loucura número 3. Como uma sonata.
Perdi o sentido do meu livro… não voltei a ver centopeias.
E nunca vi o Homem. Deve vir de fato de macaco e de boné com um aparelho bizarro. Não lhe mordas.

Conversas de café chique.
Tipo poetas chiques sentados em mesas de cobre ou estanho ou algum metal amarelado.
Chama-se Jung e era magra. Com um diáfano vestido branco e sapatos pretos de tacão alto.
De tacão imensamente alto e cabelo imensamente negro e comprido. Toca uma qualquer sonata.

Desce uma rua pequena e velha de trompete na mão.
Mas a banda sonora é o terceiro movimento da sonata ao luar de Beethoven.
Para arrancar qualquer inércia por mim provocada.
Dentro do café está abafado, demasiadamente abafado.

Janelas enormes e perras estão abertas e não batem porque estão perras e porque não há qualquer vestígio de brisa.
Houve-se um trompetar. O reflexo de um trompete encandeia.
Se misturasse tudo … os sítios e as pessoas… como um baralho de cartas.
Só por breves instantes.

E sem mais encontro uma fotografia tipo passe do meu Avô. Sinto um carinho imenso que me trespassa.
Não Avô, não enlouqueci… para os outros.
Reservo-a para mim… a loucura.
Busca incessante que se cruzou nesse baralhar e aguarda a reposição.

Não deixes que os meus devaneios se apoderem de ti.

Thursday, November 17, 2011

HOJE - TOMO 2

É de noite que funcionam as máquinas de escrever. Só de noite funcionam bem.
As diurnas são objecto de secretária loira americana dos anos 70 (ou outros ano idos que não consigo precisar).
E um cinzeiro cheio de cigarros. SG Ventil ou outro SG. Já não fumo. Deixei de fumar.
O s livros ficam amarelados… como se fumassem. As folhas escritas à máquina estão amarelas.

Nos bastidores de grandes salas de teatro mulheres semi-despidas correm de um lado para outro e os homens nem notam, também correm.
As estrelas mexem-se e não são aviões. Quando eu era miúda isso não acontecia.
Mexem-se… assim como as mulheres do teatro e eu constato …que nem isso me preenche.
Faço parte de um poema que li sobre os loucos. Não sou louca mas quase.

Não é autobiográfico. Pode apenas parecer… deixemos alguma autenticidade.
Se chovesse agora, ouvia-se a água violentamente a bater no vidro.
Ía começar o barulho da rega mas como chove não se ouve.
Amo a paz do vazio mas não consigo permanecer… nem na paz nem no vazio.

Tenho que sair.
Uma viagem extenuante em pleno meio dia, mesmo sendo este texto nocturno. Arrependo-me de imediato… de sair.
Noite de estrelas que se mexem e não são cadentes.
Montes de erva molhada sem ter chovido.

E rãs… ou o teu Príncipe.
Mas cuidado que ele fala comigo.
Como uma gaveta cheia de meias cheias de buracos e meias de vidro e ligueiros.
Coisas íntimas. Coisas.

E se a tal máquina de escrever existisse… partia-a em pedaços.
Atirava-a a uma parede e gritava. Talvez me ouvisses.
Ouves-me assim? Eu protesto. Vivamente.
Protesto vivamente.