Friday, April 01, 2011

Sem título

Discuto mais contigo que com o meu cão.
Agrido-te porque quero e porque o sinto mas também gosto de ti.
Dividimos amarguras.
Não se entende o ódio nem os abraços, nem o amor camuflado, nem o ódio.
A pressão faz valer tudo. Faz… existir tudo… Faz viver…
Faz ninguém entender.

Os meus suburbios


A caminho de casa que agora é longe.

Um dia esteve aqui um submarino. Foi o mais perto que estive de um.
E saio da cidade.
Fábricas e fumo aparecem como cogumelos nas imediações da autoestrada.
Uma feira de barracas de lona, onde todas as marcas se vendem made in algum país explorado qualquer.
Vivo nos arredores. Subúrbios ou coisa assim.
“Liberalizem marijuana” numa parede de uma rotunda como um protesto pouco convincente. Mal escrito.
Mas há imensos cafés. Este é o país dos cafés. E portanto também os há nos subúrbios.
Imensos vendedores de carros usados. Aqui é a terra dos carros usados, que me observam estáticos num dos dois semáforos das redondezas.
“Tubarões vivos” num cartaz de circo, como se o circo viesse até aqui ou como se houvessem tubarões num circo.
Um homem de bigode cambaleante. Este também é o país dos homens de bigode.
Arredores. Ou subúrbios…
Um cartaz da discoteca “Ganesha” numa terriola qualquer bem longe daqui (mas não na cidade) ainda anuncia o Carnaval… e mantém-se até que a intempérie o desfaça.
As flores são mais baratas e duram mais tempo.
Na cabeleireira uma mulher pragueja como poucas vezes ouvi.
Mas também há imensas farmácias. E a farmácia onde eu vou é digna de uma metrópole… mas quando tiro o papelito nem espero.
Depois o resto é como uns arredores quaisquer. Como se a cidade fosse o que é bom.
As pessoas são diferentes.
Eu ainda me sinto da cidade, diferente. E talvez para sempre pois vim para os arredores tarde… na vida.
Agora tenho uma horta.
Da minha casa vêem-se florestas e montanhas.
Posso demorar a chegar a casa, mas chego ao paraíso todos os dias.
Entretenho-me com as bizarrias dos arredores, pois o cartaz do circo há-de dar lugar a outro. E alguém há-de pintar mais frases numa parede. E depois dos bigodes hão-de aparecer outros.
Um dia em breve vai nascer a minha primeira couve.
Entretanto, enquanto anoitece, o ar enche-se do coachar de rãs.