Wednesday, September 11, 2013

Chuva



Mal te vejo entardecer, de tantas lágrimas...
E escureces com meia dúzia de luzes alaranjadas que ficam pelo caminho.
Eu choro, choro muito, em quantidade de lágrimas, choro em quantidade.
Como se chovesse.
Tudo se embacia, até o papel e borrata. 

Começa assim.

Gostava de ter um lagarto verde que andasse sempre no meu ombro.
Seria daquelas pessoas "estranhas" a quem ninguém se quer chegar.
A não ser que vivesse em Beirute.

Entre chorares e arranhadelas há uma parede branca que serve de tela.
E terra nos pés que nos dizem ser real.
Se o pão não estivesse quente tudo poderia ser duvidoso.
Mas amo-te.

Num silencio atroz, a tua voz arranhada estremece.
Tens os head-phones. E estas noutra dimensão.
Como se ao longe cantasse uma tribo.
Ou como se num quarto silencioso eu te cantasse uma canção ao ouvido, para nem as paredes ouvirem.

Depois de um carrossel em que o dia entardece suavemente, um dia em que alguem faz pausa no entardecer, eu estou aqui.
Uma luz inclinada, um mar enorme algures, mas não aqui. Não vivo sequer junto ao mar.
Entretenho-me a ouvir os ecos da festa da junta de freguesia. 
O sol esta a uma casa de se por e eu vou morrer de frio.

Se cantares por aí ouvirei o teu eco, como se enfiasse a cabeça dentro de um trompete. 
É por isso que percorro as ruas estreitas a pé.
É por isso que vou parando aqui e ali, a ver se espreitas de uma janela. A ver se umas dessas casas amarelas é a amarela que eu quero.
A ver se essas ruas todas iguais se tornam diferentes pelo menos por um instante...
Aquele em que eu atravesso a esquina.

A tua música tolda-me o amor e bloqueia-me de arrepios.
Apareces em instantes.
Como uma distracção apetecível.
Um Hang Drum perdido.


Assim tenho estado eu em fuga para que o Mundo em mim não repare.

1 Comments:

Blogger Migla said...

a alma a descoberto. gosto muito

11:06 AM  

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