Pilar

Tens olhos grandes e negros. E sorriste para mim. Isso é uma certeza absoluta.
Trocamos olhares ao nasceres, quando ainda estavas roxinha e meia admirada com o sítio onde tinhas vindo parar. O teu olhar para mim foi de admiração. Fugaz mas não me esqueço pois logo de seguida olhei para a tua mãe, desta vez eu com admiração.

Um dia de vida e esperneavas como que a experimentar o tanto espaço que de repente te surgiu. Falamos imenso e fiz-te uns elogios invejáveis. Tinhas deixado a gabardina roxa de lado e eras uma menina verdadeira. Um pequeno centro do Mundo que olhou para mim e pensou: Vens-me ver? Quem és tu?
Pois bem, sonho contigo. Nesses sonhos já te peguei ao colo e tu pões-te cheias de manhas. E riste-te como uma menina cheia de vontade de rir. Falamos e falamos e dizemos segredos que acabamos por ter de contar à tua mãe.

Mas então nesse dia que sorriste para mim. Foi a terceira vez que nos encontramos. Chegaste num carro muito maior do que tu com uma escolta de Princesa.
Os teus papás estavam lá… como sempre. Sentadinhos lado a lado à tua espera. Com uma auréola de amor que chegava ao Céu.
Foi aí que conversámos protegidas, até tu quase adormeceres.
Estavas com um olhar maroto de quem anda a enganar toda a gente para puderes ficar nos teus lençóis da tartaruga-carro. Ficamos grandes amigas. E tu prometeste-me que íamos brincar em breve.

Assim já não sonho. Mandei lavar o vestido da minha boneca preferida e estou à tua espera.