Saturday, February 21, 2009

Som



Vi um filme sem música, sem palavras, sem banda sonora.
Uma co-produção franco-país qualquer de leste...talvez polaca.
Isto tudo no tempo em que os cinemas se restringiam a lugares próprios de nome próprio. Não na transição dos centros comerciais, que propositadamente escrevo de letra minúscula… não no fim da sua sobrevivência… mas no seu auge de Casas de Cinema independentes.
É estranhamente curioso como me lembro hoje desse filme ausente de estímulos musicais. O único que vi desse género… não imaginando que tenham sobrevivido muitos neste Mundo e no Mundo dessa altura, não tão distante assim.
Casa das Artes, numa cadeira horrivelmente desconfortável, frio… mas numa rua bonita e com fama de filmes de qualidade. Moda da altura os mais estranhos filmes europeus… moda essa que quase aniquilou este género de produções por só apresentarem as mais esotéricas esquecendo a verdadeira qualidade dos filmes europeus.
Houve uma insistência minha para ficar mais um pouco. Para continuar a acreditar que as imagens dos 3 personagens que se moviam lentamente, num sítio já lento por si, sem qualquer interacção… para continuar a acreditar num contexto que nenhum dos intervenientes dessa produção tinha qualquer intenção.
No imenso silêncio desse filme, responsável pela minha memória de hoje, a minha respiração ausente de entraves respiratórios, confundia-se com a respiração deles, os no máximo 3 personagens.
Quando um deles acendeu um cigarro, foi um ruído enorme que me acordou. Não que estivesse adormecida de sono ou desinteresse… mas sim de estímulos.
Foi como o som de uma bomba que me deu a esperança de esperar mais umas parelhas de dez minutos… pelo som…
Frustradamente abandonei a cadeira incómoda, o frio. Irritada pelo abandono que as minhas emoções regentes do momento tenham impedido a minha inteligência própria de descortinar o sentido… do filme sem som.
Não sei o nome… do filme. Mas lembro-me dele.
E os sons… tornaram-se ainda mais importantes nesta minha estadia pela vida.
Talvez por esse filme ou talvez não. Talvez ele seja só um exemplo.
Gostava de me lembrar do nome para poder dele falar a alguém entendido e poder ter alguma explicação.
Mas satisfaz-me de alguma forma saber que me relembra a importância do que ouço.

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