Saturday, February 21, 2009

O Japão, eu e tu



O Japão não é uma solidão de turista.
É um sonho de banda desenhada e de uma modernidade desconhecida. Da única para além desta a que chamamos Europa.
É um sonho só a ideia de ir…

E a chegada é a transposição para um outro Mundo, um mundo que está quase saído do nosso mapa da escola. Não tem nada a ver com a magia mística da Índia ou a neblina do passado de Angkor, nem com a chegada de madrugada a Machu Pichu.

É a porta de entrada no Novo Mundo… o paralelo ao nosso… que dizem ser parecido mas que não tem nada a ver… é como vermo-nos 20 anos à frente… e gostarmos do que vemos. Onde as pombas foram substituídas por corvos e onde os néons com dragões que se passeiam ultrapassam qualquer reclame de” boca-doce” ou de um qualquer detergente barato de marca branca.

O Mundo dos néons e da electrónica silenciosa, dos livros de quadradinhos forrados a papel que se lêem de trás para a frente e que têm prateleiras só para pornografia que me arrependo para sempre de não ter comprado. Onde Manga reina mais do que Ferrari e o karaoke ultrapassa qualquer noite de São João.

Onde as tantas luzes nos fazem sentir muito pequeninos. Onde a noite são só luzes que cintilam e ganham vida própria.
Onde o metro é estranho mas demasiado simpático para ser difícil. Onde qualquer japonês nos ajuda a pôr o dedo no mapa. Onde os nosso olhos não repousam pela curiosidade…. nem os deles… e quem mais estranha quem, é difícil dizer…

O país dos néons modernos, do Manga e das marcas. Dos japoneses bonitos e das japonesas que retocam a maquillagem em qualquer esquina, mesmo sem precisarem de realçarem os olhos perfeitos que nos fazem sentir inveja de os termos tão grandes.

Não vi Tokyo de um 50 andar… mas sentei-me várias vezes em Shibuya crossing...
como numa réplica do Lost in Translation…à espera de um dinossauro electrónico que nunca passou… ou que eu não vi tão absorvida pela excentricidade da juventude japonesa a atropelar-se nas zebras desenhadas no chão que se não se vêem do céu é porque é um erro dos deuses.

Ou quando te vi passar a porta do templo dos casamentos…. Que por azar nesse dia não existiam…casamentos. Mas que obviamente os vi de olhos fechados… e quase os senti quando senti a tua mão no meu braço. E a tua baralhação com o grupo de deficientes que não distinguiste de gente sana… só porque eram de uma outra raça a que pouco estamos habituados.

Tenho que admitir que me desiludi com os restos infindos do bairro das gueixas em Kyoto. Precisei fechar os olhos para ver os meus filmes de sempre. E precisei abrir os olhos para ver o que nos aconteceu. Para as ver as gueixas fugitivas… e a nós fugitivos.

Foi uma terra estranha Kyoto… demasiado cidade para tanto templo Zen e tanta história de gueixa… que existem… mas esquivas aos ataques desta nova sociedade que as vê como aves em extinção.

Foi estranho dizer-te que te amava em japonês e foi estranho acordar a amar-te sem certezas de tanta confusão, num Mundo tão confuso por tão longínquo ser. Fazia 35 anos quando acordei a ouvir a música que fizeste para mim.

Levei-te ao templo mais bonito. Um Buda Zen de pedra maciça repousava entre as montanhas, mais sereno que qualquer um de nós os dois nesse 26 de Abril.

Atravessamos parte do Japão no comboio… só porque era famoso e eu queria andar nele…. e adormecemos de cansaço ao passar pelo Mt Fuji… ou não o vi porque chorei ou porque estava na janela do outro lado.

E o meu Mundo cheio de Japão e Kyoto e budismo Zen e de Tokyo e cerejeiras que por sorte estavam em flor, e cheio de amor para quem viesse enviado dos céus… absorvi o Happy de uma forma desvastadora.

Atravessei o tal de Japão nesse tal de comboio bala com lágrimas mais lentas que a paisagem. Fechava os olhos e via a noite, os corvos e as luzes e não acreditava que o monte Fuji estava à minha direita.

Nem quando os monges me acordaram às 5h da manhã eu acreditei.
Nem quando ía para os banhos ao fim do dia e me via demasiado magra.
Nem nunca acreditei.
Viagens são sonhos que não se repetem.

Se agora estás comigo é porque estamos acima dos sonhos e ilusões. Para além do Japão e da Índia, num Mundo onde as cores se sentem e o cheiro se vive.
Onde a minha mão na tua se transforma na simplicidade de um sorriso.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home