Ovelhas e afins
O medo da
loucura ainda me surge.
Menos, muito
menos.
Sobrepõe-se a
rapidez com que vivo.
A não ser que
Deus se esqueça de mim.
Então o caos
instala-se e eu perco-me num rodopio de circunstancias que não sei viver.
O medo nem tem
tempo de se instalar.
Como construções
de areia que desabam com uma pequeníssima onda.
E um jogo de
dominó de peças mal colocadas.
Que quase se
pudesse pensar que era de propósito
Um desabar tão
natural e que começa a ser tão comum que me lentifica, em vez de me assustar.
Que me revolta e
me faz chorar intensamente.
Chorar mesmo, a
ver se a dor passa, e passa, com o cansaço.
Para não me
apanhar em teias deprimentes de sofás e afins, saio muito cedo.
Tão cedo que só
vejo cabras e ovelhas e uns tantos carros apressados.
Assim despejo-me
em imagens que nunca vejo.
Por vezes
fotografei-as, a essas imagens, cheiram a estrume.
Não as consigo
reter.
Fogem-se-me
entre cheiros e memórias.
Não quero ver
carros nem pessoas nem avenidas nem lojas nem coisas relacionadas com cidades
nem com a vida que eu levo.
Vejo flores e
adoro flores.
Vejo ovelhas
malcheirosas e adoro ovelhas.
Ando até não
poder mais para que esse caos que esse Deus deixou que chegasse a mim se vá
embora, cansado.
Porque eu não me
vou cansar antes dele.
Quando em casa
contigo, sossego.