Friday, June 20, 2008

Tio António, uma homenagem



Não sei as horas mas é de manhã. A luz da manhã é a mais pura.
É um momento de silêncio, de respeito, de reflexão, até talvez de compaixão.
A luz é tão branca que fere, reflecte-se na imensa quantidade de mármore e noutras quaisquer pedras pintadas de branco imaculado.
Choveu momentos antes, como lágrimas também chovem.
E também a água reflecte.
Neste silêncio de respeito fecho o guarda-chuva.
O silêncio transforma-se no horrível ruído da pá no cimento… e da terra a cair.
Os restantes sons da natureza esconderam-se e é só este tenebroso som que existe para obrigar a tornar consciente a morte.
Reabre feridas antigas.
Afasto-me para ir abraçar a minha Mãe.
É neste caminho que decidi escrever o que vi.
O que vi era bonito, muito bonito.
Um cemitério branco. Imensas e imensas lápides ou campas ou qual seja o seu nome.
Enorme quantidade de flores frescas… segunda-feira. A enorme quantidade de flores que alguém cuidadosamente colocou. Que tantos alguéns colocaram… simbolizam tantos amores perdidos… demasiado perdidos.
Nunca perdi assim ninguém.
E assim a minha admiração por esses alguéns é enorme.
Imensas flores, símbolo do que é puro, que vive e respira… e quase fala.
Uma quantidade não enorme de gente aglomerou-se naquele sítio onde um irmão que não conheço dorme para sempre. Minha família. De preto. De guarda-chuvas. Juntos, todos juntos na imensidão do cemitério.
Não é grande, vêem-se as paredes todas, e não tem jardins. É todo ele branco e pequeno e tratado como uma preciosidade das nossas vidas. É lindo.
O momento é triste, muito triste.
Mas um ritual bonito… não pelo que se sente…
Não me posso fazer entender mal com esta apologia à beleza…
Entendo que é necessário… um ritual… seja ele qual for.
Pelo que vejo agora a uns metros e ao longe… não são só as outras religiões que visito de alma curiosa por esse Mundo fora que me podem despertar.
É a luz da manhã e talvez todas as almas que aqui sinto.
Sinto amor pela minha família, uma proximidade que talvez não surge no dia a dia.
Procuro a minha Mãe e encontro-a e chego-me ao pé dela e abraço-a com todo o amor que sinto por Ela.

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